Credibilidade e ciênciaMarcio Felipe Medeiros style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> A ciência, enquanto sistema social, demanda credibilidade e confiança. Não necessariamente para o seu desenvolvimento, mas por parte da sociedade. Isso se deve, em grande medida, à nossa incapacidade técnica de compreender tudo aquilo que ela produz. Quando pensamos nos objetos com os quais interagimos cotidianamente, e que poderiam tirar nossa vida, como carros, aparelhos elétricos e toda sorte de equipamentos, embora não saibamos exatamente como funcionam, confiamos em sua eficácia pela experiência de relacionamento. Acreditamos que o carro não irá dar uma pane e nos matar, pois já andamos inúmeras vezes nele, e até o momento, estamos bem e ele cumpriu sua função repetidamente. CONFIANÇA E CREDIBILIDADE O mundo à nossa volta é repleto de crenças, pois a sociedade na qual vivemos, devido a sua complexificação técnica, impede que saibamos tudo e demanda confiança nas tecnologias. O sociólogo Anthony Giddens chama isto de sistema perito. A confiança produz uma certa estabilidade emocional nas pessoas, de modo a não enlouquecermos desconfiando com cada tecnologia que nos cerca. A visão do autor era que a sociedade, em certo sentido, caminhasse para uma crença cada vez maior nas tecnologias e se tornasse cada vez mais racional. Ledo engano! A proliferação de teorias da conspiração associadas à não compreensão dos mecanismos de funcionamento da ciência, tem conduzido ao descrédito cada vez maior do projeto científico. E isto tem levado os cientistas a não saber como agir. Um cientista é treinado, durante toda sua formação, a debater com outro cientista, ou seja, a refutar argumentos que estejam organizados sob o escrutínio da ciência. Entretanto, as teorias da conspiração que alimentam o descrédito não seguem este princípio. A crítica organizada pelos movimentos anticientistas se vale de informações falsas e/ou distorcidas e apelam para as emoções, sendo o medo a principal fonte. EFEITO PRÁTICO Um dos efeitos da descrença na ciência tem se voltado contra as vacinas. Estas sim são consideradas experimentais, entretanto, isso não significa que os cuidados necessários para assegurar a eficácia e a saúde das pessoas não estejam sendo tomadas. Contudo, tem-se visto comentários alarmistas nas redes sociais, inclusive de médicos, propagando desinformação, medo e ódio. A desconfiança na ciência está virando um caso político, e as consequências podem ser graves, como muito mais tempo do que o necessário para a sociedade sair da "quarentena". |
A face da esquerdaRogério Koff style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> Em primeiro lugar, preciso explicar ao leitor o que entendo como o "pensamento de esquerda". Até o final do século 18, os termos "direita" e "esquerda" não eram aplicáveis em termos de pensamento político. Até que o rei francês Luís 16, pressionado por questões de várias ordens, acabou forçado a convocar uma assembleia dos Estados Gerais. Ao lado direito do monarca, sentavam os representantes do clero e da nobreza. À sua esquerda, o chamado "Terceiro Estado", formado por representantes do comércio, do exército e da população em geral. Depois da Revolução de 1789 e da irrupção do terror jacobino, a esquerda passou a ser associada a todas as formas revolucionárias e às tentativas de ruptura com a tradição. BENS INJUSTAMENTE DISTRIBUÍDOS O filósofo conservador Roger Scruton (1944-2020), da mesma forma que seu antecessor do século 18 Edmund Burke (1729-1797), mostrou que os esquerdistas, da mesma maneira que os jacobinos da Revolução Francesa, acreditavam que os bens do mundo eram distribuídos de forma injusta. De modo geral, todas as políticas contemporâneas de esquerda são derivadas desta concepção originária. As pautas de libertação das mulheres, dos direitos dos homossexuais e negros acabaram absorvidas em nome dos supostos "direitos humanos" e de uma justiça social. EXEMPLOS DE INTOLERÂNCIA Porém, a verdadeira face da esquerda tem se mostrado exatamente contrária à ideia de tolerância. Todo e qualquer cidadão que se recusar a aceitar suas ideologias ultrapassadas será atacado. Vamos a dois exemplos recentes. Na Universidade de São Paulo, um jornal acadêmico acabou por agredir o atual presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. Camargo foi alvo por conta de suas críticas referentes ao conceito de "racismo estrutural" no Brasil, porque afirmou que o mesmo não existe e que não passa de uma narrativa inventada pela esquerda. Foi o suficiente para que o referido jornal escrito por alunos, mas supervisionado por professores de jornalismo, elaborasse um artigo sob o seguinte título: "Preto de Alma Branca: o que faz Sérgio Camargo no comando da Fundação Palmares"? A vítima da fúria racista vinda da esquerda já anunciou que moverá processo contra seus agressores. Como compreender que justamente aqueles que se nomeiam "antirracistas" sejam eles próprios racistas? O segundo exemplo da "tolerância" da esquerda é a condenação pela China comunista da jornalista Zhang Zhan (na fotografia) a quatro anos de prisão. Seu "crime"? A cobertura jornalística do surgimento da Covid-19 teria causado "problemas" ao governo chinês. A União Europeia já pediu sua libertação. Os mais jovens até podem acreditar na sensibilidade dos comunistas, mas quem assistiu pela TV ao massacre de jovens na Praça da Paz Celestial em 1989 sabe sobre o que estamos falando. Eis a grande esquerda supostamente defensora dos direitos humanos. |